segunda-feira, 29 de novembro de 2010

João Edélcio - Inesquecível... - Parte 02


Final de semana inacreditável...
Eu não entendia bem o que estava acontecendo entre eu o João, mas era algo muito diferente que tinha experimentado até em tão em toda minha vida...
Mas, era muito cedo para pensar ou saber algo concreto...
No domingo fui a Túnnel, na Bela Vista, como tinhamos combinado...
Quando cheguei lá, eram umas 19:00hs, estava ele lá me esperando na porta...
Entramos e fomos guardar nossas coisas na chapelaria...
De repente, ele me pega pela cintura, me levanta e começa a me rodar...
Nunca tinham feito isso comigo e na verdade nunca deixei que me tocassem muito...
Com ele, deixei rolar e foi uma sensação muito gostosa... Não sei porque, mas confiava no João como nunca fiz com nenhum cara...
Como disse, ao lado dele não ligava para nada, nem para ninguém...
Foi naquela noite que nos beijamos pela primeira vez...
Bom, e não foi apenas uma vez... rs
Na hora de ir embora, fomos juntos caminhando...
Ele disse que estava gostando muito de estar comigo, que tinha adorado ficar comigo e eu falei: "mas, não quer nada sério agora...". Ele riu e confirmou com a cabeça...
Eu disse que também não queria nada sério naquele momento, que deixássemos rolar... Se tivesse que acontecer aconteceria... Ele riu...
Uma característica nossa, era que nossos pensamentos se cruzavam a todo momento...
Geralmente um já sabia o que o outro estava pensando e geralmente não era necessário nem terminar de falar algo... Estranho né?! Eu achava também e meio mágico...
Outra coisa é que um namoro me dava medo, acho que até hoje... Eu gostava mesmo é de sair para me divertir...
Confesso, era meio galinha, gostava de sair, ficar trocando de lugar a cada três horas mais ou menos e geralmente acabava ficando com um cara por boate...
É tão bom beijarrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr rs.
Mas, não saia a procura disso, acabava acontecendo... As únicas vezes que tinha namorado, me senti preso ou me decepcionei...
A semana passou e eu encontrei novamente o João... Na sexta, no sábado e no domingo... rs
E assim fomos nos vendo, fomos ficando, foi rolando... Às vezes ele saia comigo, às vezes não e sem neuras...
Também acontecia dele querer ir a um lugar e eu a outro e depois nos encontrávamos... Tudo com muita paz, com muita tranquilidade, com muita confiança... Era maravilhoso...
Mas, ao contrário disso, em minha casa estava havendo uma verdadeira batalha: eu e minha mãe.
Apesar de sermos amigos desde que me conheço por gente, ela não aceitava o homossexualismo...
Não era declarado, mas ela sabia, claro que sabia... Tinha tentando me mandar para casa de sua irmã no Paraná, mas eu tinha me recusado a ir.. Nem sabia quem era essa minha tia...
Ela pensava que lá, eu teria uma vida diferente, com menos liberdade talvez não teria como sair tanto... Afinal seria uma nova casa, novas regras...
Na cabeça dela, a vida que eu estava vivendo era errada... Eu estudava e saia sempre. Tinha um negócio próprio, algumas vendedoras ambulantes, que me davam uma boa renda mensal...
Fiquei sabendo anos mais tarde, que ela ficou sabendo de minhas aventuras, pois tinham me visto de mãos dadas com outro homem na rua... Com certeza foi com o João, pois só com ele fiz isso.
Consolação, Avenida Paulista à noite é gay... Tínhamos a liberdade para isso...
Naquela época, nunca tinha escutado um caso de homofobia....
Bom, como escrevi, enquanto eu e o João estávamos ótimos, eu e minha mãe parecíamos cão e gato.
Não vou entrar em mil detalhes aqui, mas ela começou a entrar em contato com os irmãos e irmãs que a anos não via, alguns a mais de 30 anos... Tudo com apenas um intuito: me mandar para o Japão, longe daquela vida...
Eu nem sabia de nada quando num belo domingo, ao chegar em casa pela manhã, depois de ter ficado com o João, rs, ela me avisa que iríamos almoçar na casa de uma irmã dela.
Eu fiquei muito feliz, pois sempre tive vontade de conhecer a família dela, nunca tinha visto ninguém até então, apenas a família de meu pai, que por sinal, tratava a minha mãe e a mim como "Aliens". Eram todos italianos e super preconceituosos...
Minha mama era tratada como "A Japonesa" e eu como  "O Filho da Japonesa". Meu irmão tinha escapado disso, porque era um mestiço bem mais brasileiro, com cabelos encaracolados...
Sem eu saber da armadilha, fui todo feliz pra casa de minha tia!!!
Lá para meu espanto, estavam não apenas ela, mas como também mais uma de suas irmãs e mais um irmão...
Aquilo estava sendo mágico para mim, uma felicidade completa! Estava conhecendo finalmente a origem de minha mãe! O marido dessa minha tia, me mostrou vários álbuns de fotos. Vi minha mama pequena, seus irmãos e principalmente, a foto de meus avós, que nunca tinha visto...
No decorrer do dia, que estava sendo maravilhoso, minha mãe comentou que eu estava querendo vir para o Japão... Eu por um momento congelei, mas deixei o papo rolar, porque sabia que não ia dar em nada, como não tinha dado da outra vez...
Deixa eu contar, da outra vez, meses antes, estava querendo vir para cá. Minha mama sempre manteve contato com a irmã do Paraná, nunca se viam, mas mantinham contato.
Esta quando soube do meu interesse em vir para cá, passou o telefone de um primo que poderia me ajudar na época, que tinha ido para o Brasil para casar e me ajudaria com certeza.
Eu entrei então em contato com esse idiota (você saberá o porque o chamo assim daqui a pouco) e fiz tudo que ele mandou: documentos, dinheiro e etc...
Eu estava trabalhando na época e acabei pedindo demissão, na verdade fiz aquele acordo para não perder o fundo de garantia... Quando estava tudo certo, que tinha feito tudo que ele tinha pedido, liguei para ele como o combinado... Não conseguia achá-lo, ora estava viajando, ora na casa da família da esposa, ora simplesmente tinha saído...
Quando finalmente nos falamos, ele disse que estava muito ocupado e que não podia me ajudar... E desligou o telefone...
Imaginem minha situação... Tinha pedido demissão e tinham desligado o telefone na minha cara...
Eu depois daquele dia, decidi ficar é no Brasil e viver minha vida. Japão: nunca mais!!!
Nesse dia, na casa de meus tios, fiquei sabendo que o desgraçado me fala pra todo mundo que eu tinha pedido dinheiro para ele... Pode?! Eu tinha dinheiro para passar meses no Japão! 
O que tinha acontecido na verdade são duas coisas: primeiro a mãe dele que é cunhada da minha mãe, se odeiam... E segundo, ele tinha tempo para ficar aqui, a firma onde eles trabalhavam, tinha dado um determinado número de dias para eles ficarem fora, mas com o casamento e tal, os dias tinham corrido mais rápido que o esperado e quando eu liguei, ele não tinha como me ajudar, mas em vez de falar isso, preferiu mentir, colocando a culpa em mim...
Juro, que ainda hoje tenho vontade de quebrar a cara desse palhaço e depois perguntar o porque que o idiota fez isso. Não presta mesmo!
Voltando... Meus tios se espantaram por saber a verdade, mais ainda um deles, que era o pai do garoto FDP!!!
Todos então me perguntaram se eu realmente queria ir como minha mãe estava dizendo. Eu só reparava nos olhares de minha mãe... Imaginem, ela longe de todos a praticamente a 30 anos (ela que fugiu por sinal), aparece do nada, separada, como dois filhos... Todo mundo sabe como os japoneses são conservadores... Imaginem a situação. Qualquer palavra errada minha, a moral dela cairia mais do que já estava caída...
Apesar das brigas e desentendimentos, eu e minha mãe sempre fomos amigos, e eu sabia muito bem que a situação dela ali era delicada... Todos temos orgulho e eu não queria ferir o da minha mãe de jeito algum...
Então confirmei que queria ir e combinamos de nos encontrar no dia seguinte no Bairro da Liberdade, em uma agência que eles conheciam...
Apesar de um pouco preocupado, nem liguei, ainda mais com a sorriso da minha mãe, tanto por eu não ter a contrariado na frente de todos, como por alegria por estar entre os seus... Acredito que também estava alegre porque sabia que ali, seu plano para me mandar pro Japão estava começando a dar certo...
Apesar de não ter dormido, estava bem e fui me encontrar com o João. Não disse nada a ele, porque pensava que não ia dar em nada esse papo de ir pro Japão...
Estávamos ótimos, vivendo como nunca tinha vivido... Eu estava "amando"?! Não sei, mas que estava vivendo algo muito bom, eu estava...
Naquele dia passamos apenas algumas horas juntos, cada um foi para sua casa, afinal, ele tinha que trabalhar no dia seguinte e eu tinha que encontrar com as irmãs de minha mama.
Eu e minha mãe fomos como combinado. Falamos com a moça da agência que pediu para voltarmos na quarta com mais documentos. 
Na quarta apareceu outra tia, esposa na verdade de meu tio mais velho, japonesa.
Estávamos então eu, minha mama e minhas outras três tias na agência conversando com a mulher.
Todas estavam sentadas juntas, ao meu lado direito e eu praticamente sozinho do outro lado. A mulher analisava meus documentos e conversava com minhas tias e olhava para mim... Assim foi, até a questão do visto foi vista e estava tudo tranquilo, pois essa minha Tia Japa tinha contatos no consulado japonês e meu visto sairia na hora...
Ai de repente, a mulher vira pra mim e diz (era quarta-feira): "Bom, está tudo certo então com seus documentos. Você pode embarcar quinta-feira da semana que vem?!".
Eu não sei como você está se sentindo ao ler isso, mas eu travei malandro!!!
Parecia uma cena de filme, onde o personagem é pego de surpresa e simplesmente não só congela, como começa a suar frio... Do outro lado da sala, porque ela me parecia enorme nesse momento e eu me sentia sozinho, estavam minhas tias olhando para mim e minha mãe atrás delas... Elas pareciam que estava com os olhos maiores do que o normal, todas esperando minha resposta... Sabia que a moral de minha mama estava em jogo e a minha também, afinal eu tinha aquele problema com aquele meu primo cretino...
Foram segundos, que mais pareciam séculos.... E eu simplesmente disse: "Sim, tudo bem"...
Minhas tias sorriram felizes, minha mãe respirou aliviada e a moça da agência sorriu satisfeita com mais um negócio fechado...
E eu?! Eu estava me sentindo péssimo, precisava sair dali urgentemente, aquela sala...Suava frio, minha cabeça rodava... 
Quando finalmente consegui não apenas sair, mas como ficar sozinho, só conseguir me sentar num lugar qualquer antes que caísse ao chão...
Sabia que tinha apenas mais oito dias de Brasil e tinha duas opções: ou eu enlouquecia ou encarava a situação de frente! E decidi encarar, porque tinha que ser feito!
Posso parecer um pouco dramático quando escrevo meus sentimentos, mas não fico no drama por muito tempo, não dá, não sou assim...
Assim, levantei e segui. Liguei pra algumas pessoas lá da rua mesmo, contando que estava partindo...
Mas, eu estava nervoso, com o coração a mil por hora... O que eu iria contar para o João?!
Na sexta nos encontramos... Eu não sabia o que falar, ainda mais porque ele tinha dito que não iria sair aquela noite, que eu poderia ir sozinho... E fui, sem dizer uma palavra...
No sábado nos encontramos. Fomos para uma boate e cheguei para ele e disse: "Estou indo quinta-feira que vem para o Japão".
Lembro-me do olhar dele quando falei isso. Essa imagem ficou congelada em minha mente...
Ficamos ali, parados, um olhando para o outro sem dizer qualquer palavra... Até que ele me abraçou e assim ficamos durante um longo tempo...
Naquela noite não trocamos uma palavra sequer. Ficamos juntos, abraçados a noite toda. Íamos a algum lugar calados, abraçados, juntos.
No final, combinamos de nos encontrar no dia seguinte para eu contar o porque que eu estava indo. O que tinha acontecido realmente. Disse que precisava contar para ele tudo, pois não tinha culpa... Ele concordou e nos despedimos com um abraço que durou uma eternidade.
Era uma dor tão grande que estávamos sentindo... Um misto de dor e choque... Não dava pra falar.
No domingo eu tinha ido passar o dia com meu pai e avó. Tinha ido me despedir deles. Todos estavam surpresos, estava sendo tudo muito rápido... Contra a vontade deles e a minha, me despedi por volta das 18:00hs, pois tinha que ir ver o João...
Fui, esperei.... Ele não apareceu... Fui em todos lugares que conhecia e ele não estava em lugar algum... Perguntei para nosso amigos em comum e ninguém tinha visto ele...
Voltei para casa, triste arrasado...
Eu tinha que falar com ele, tinha que contar o que tinha acontecido, tinha que falar, ele tinha que me escutar!!!
Tentei ligar para ele e nada, não conseguia falar com ele.
Um amigo, não me lembro o nome, disse que tinha conseguido falar com ele e que ele tinha combinado de me ver na quarta-feira num barzinho que íamos sempre...
Lá estava eu novamente a espera de João, mas ele novamente não apareceu...
Nem preciso dizer o quanto estava triste...
Bom, o tempo passou.
Em 1998 fui ao Brasil e tentei falar com ele, mas foi inútil, não o achei...
Em 2000 fui ao Brasil novamente e tentei falar com ele novamente... Apesar dos anos terem passado, eu ainda sentia a necessidade de contar para ele o que tinha acontecido...
Falei com a mãe dele várias vezes e fiquei sabendo que ele estava morando com um outro rapaz.
Isso não tinha importancia para mim, eu não queria voltar com ele, ainda mais que nem no Brasil morava, mas precisava falar com ele!
Deixei recado, deixei telefone para contato, até o dia que ia voltar para o Japão deixei. A mãe dele disse que tinha dado todos os recados e então eu decidi que era a vez dele querer ou não me ouvir, me encontrar...
Quando parti do Brasil em 2000 e ele não tinha me ligado ainda, decidi que tinha feito minha parte...
João Edélcio, Inesquecível, meu querido e amado tinha ficado para trás e nossa história finalmente tinha acabado.
Um "ponto final" para que eu vivesse em paz, pois tinha feito minha parte!

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