quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Olho no espelho e o que vejo?


Depois de um longo e reconfortante banho após um dia de trabalho, fui para o quarto me vestir.
Passei em frente ao espelho e resolvi olhar aquela pessoa que me pareceu tão estranha.
Cheguei mais perto e não consegui a reconhecer...
Cheguei mais perto ainda e resolvi olhar dentro dos olhos daquele reflexo...
Embora tenha visto um misto de tristeza e desilusão, pude ali reconhecer-me.
Foi um susto, mas resolvi esquecer o tempo por alguns instantes e reparar melhor naquele reflexo...
Há mais de 20 anos não fazia isso...
Vinha percebendo que meu corpo estava mudando pois a cada ano minhas roupas ficavam apertadas e tinha que aumentar um número...
Minhas camisetas eram S quando cheguei aqui ou M, pois nunca gostei de nada muito apertado.
Mas, hoje elas são 3L ou 4L.
Minhas calças jeans quando cheguei aqui eram tamanho 36, a última vez que comprei eram 42. Depois, quando não serviram mais, achei melhor comprar aquelas esporte, com elástico.
Aqui as calças não são por número e sim pela medida da cintura. No começo usava 76. A última que tive que comprar para ir a um casamento, era 110.
Sempre usava o cabelo meio comprido. O suficiente para dividir ao meio ou até mesmo colocar de lado.
Com o tempo foi aparecendo cabelos brancos e com a falta de tempo fui usando ele mais curto até chegar ao ponto de passar máquina.
O bom da máquina é que ele fica mais prático para lavar, não precisa pentear e os cabelos brancos somem... rs
Nesses 20 anos eu não tinha tempo para ficar reparando muito em mim.
Minha família precisava de minha ajudar a toda hora. Conselhos, dinheiro e etc...
Os amigos sempre estavam com problemas.
A jornada de trabalho aqui no Japão é exaustiva muitas vezes e o pouco tempo livre que nos sobra, temos que aproveitar o máximo possível.
Como sempre tinha alguém precisando de mim, eu não podia perder tempo com roupas, cabelo ou alimentação.
Vestia o que dava, comia o que tinha de mais prático e rápido possível.
Quantos finais de semana não passei dentro do Centro Espírita que frequentava ajudando as pessoas, com os afazeres....
Às vezes, quase sempre, ia a casa de alguma amiga pois não tinha comida em casa ou fralda para seu bebê...
Tinha que economizar também, pois minha família toda hora precisava de dinheiro para algo...
Pagar a prestação do apartamento, comprar o remédio da pressão que subiu, pagar o conserto da TV que quebrou, o material do primo que começou a estudar...
Eu não me permitia parar um segundo, esse pensamento sequer passava por minha cabeça e os anos foram passando.
Algumas pessoas me diziam que eu tinha que me divertir um pouco, outras que devia cuidar melhor da minha alimentação.... E eu sempre pensava: "fácil falar, queria ver se estivessem no meu lugar".
Algumas ou muitas vezes meu corpo "disse" que algo não ia bem, mas agente toma uma "aspirina"e tudo passa....
Mas, depois de 20 anos, olhando aquele reflexo no espelho, me assustei...
Onde esta aquele garoto? O que vejo é um homem acabado na minha frente...
Gordo, de cabelos grisalhos, com cara de cansado, sem vida...
Diabético, com uma gastrite nervosa, pressão alta e vamos parar por aqui....
Penso: "onde estão aqueles amigos que tanto ajudei?!".
Sabe aonde estão? Todos bem, levando suas vidas, bem longe de mim.
E a família? Também, todos estão bem e pelo que lembro, nunca sequer te mandaram nem um cartão de natal...
E o Centro Espírita?
Está lá, onde sempre esteve, mas sem você...

Não sei bem ainda o que pensar e muito menos o que vou fazer...
Mas, resolvi vir aqui, depois de tanto tempo e escrever.
Escrever para você, que talvez esteja levando uma vida igual a que eu levei...
Leia e releia este texto e acredite, é a mais pura verdade...
Se você é como eu era ou talvez ainda seja, pare e pense se vale à pena...
Não pense que o mundo vai parar de girar caso você não faça alguma coisa, porque ele com certeza não vai.
Se dê um tempo quando puder, não deixe nunca de cuidar de sua aparência, de sua saúde.
Saia, passeie, divirta-se!!! Faz parte da vida!!!
Ajude sim, mas permita-se ser ajudado também!!!
Deixo claro, ninguém me obrigou a fazer nada, a levar a vida que levei.
Fiz tudo por minha cabeça, mas confesso que se fosse hoje,  teria cuidado mais de mim.

Até!